Aqui está um pouco do que ando a publicar por ai.  Tem histórias, entrevistas, noticias e indignações. Carrega nas imagens e lê a minha espécie de portfolio de textos publicados . 

Uma Avenida, Muitas Lutas

No dia em que a Revolução dos Cravos completou 49 anos, a Avenida da Liberdade recebeu mais uma manifestação em defesa da democracia. Eram muitos os rostos e mais ainda as lutas. 

O calor que se fazia sentir em mais um abril pós-revolução, foi atípico. Ao som de “Grândola Vila Morena”, milhares de pessoas fizeram-se presentes e empunharam cravos, tambores, gaitas de fole, apitos, cartazes, faixas e megafones onde os gritos de ordem de cada grupo eram intercalados com o clássico de António Escudeiro, "o povo unido jamais será vencido". Em cada rosto um amigo que pontuava a diversidade. 

A presença da juventude fica marcada em cada um dos grupos. De mãos dadas com os defensores de abril desde 1974, ficou claro o empenho, a alegria e principalmente a liberdade de estudantes universitários, jovens empreendedores, artistas, ativistas pelo ambiente, pela cultura, pela igualdade de gênero, pela liberdade sexual, pelos direitos dos animais, pela moradia justa, pelas propinas indevidas ou simplesmente pelo direito à alegria. 

Crianças andaram livremente a saltitar e usufruir a liberdade de expressão que foi aquela manifestação. De destacar a família de um rapaz que empunhava uma réplica em lego de um fuzil com cravo no cano. Era a avó, a mãe, duas crianças e mais uma mulher com necessidades especiais de locomoção à beira da calçada, com seus cravos encarnados na mão estavam a vibrar e a cantar as velhas canções. Ali via-se os ideais de abril a ser passado à nova geração e segundo a mãe do rapazinho, é preciso estar presente na democracia. 

Muitos cartazes em variados formatos. Uns vinham a baloiçar entre as bandeiras e outros vinham presos no corpo. Sempre acompanhados de um certo “orgulho” em carregá-los.  As vozes sentiam-se emocionadas e pujantes. Principalmente a dos professores. Vieram desde o Minho até ao Algarve. Vestiram preto em sinal de luto. Pediram fundamentalmente respeito, afinal uma nação valente não se faz sem eles. Acreditam que estar em luta a tanto tempo pelos “6 anos, 6 meses e 23 dias” além de necessário para categoria é pedagógico. Ensinam aos seus alunos, colegas e também aos vários ministros que “não podemos baixar os braços nunca”. 

O grito “25 de abril sempre, fascismo nunca mais” também ecoou pela avenida abaixo. Muitos foram os cartazes que procuraram despertar para o fato que a democracia se faz e se fez sempre na rua, na escola, na coletividade. Se faz com poesia, afetos, tambores, pão, saúde, educação e habitação. Não é por acaso que o Primeiro artigo da Constituição Portuguesa, expressa que a soberania do país é “ soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.” Faz-se com consciência e educação, sem deixar espaço para que qualquer movimento que esteja pautado pela falta de liberdade, direitos conquistados e participação popular possa crescer.

São os ideais de abril que “animam a malta”, e que, no encontro com o amigo, no sorriso rasgado da juventude e nos cravos encarnados proporcionam o ‘desfile popular cotidiano’ da democracia.  


Humanização hospitalar: porque é preciso pensar nas pessoas.

Uma pessoa que, por doença crónica ou aguda, é internada numa unidade hospitalar, está a viver um dos maiores momentos de vulnerabilidade de sua vida. O sentimento de impotência une-se a uma série de protocolos desconhecidos. Ansiedade, angústia e solidão, normalmente são os sentimentos vivenciados.

Hoje em dia as notícias da TV em Portugal contam histórias de descaso e incerteza quanto ao desempenho do sistema de saúde em Portugal. Mas a verdade é que o SNS – Sistema Nacional de Saúde, é um exemplo para o mundo. Segundo dados do Portal Europeu de Informações sobre Saúde, existem muitos indicadores que o projeto de saúde português está bem e recomenda-se.

Existe um elevado grau de maturidade na gestão do sistema, público e privado, e grande parte dos hospitais portugueses estão no mesmo nível dos melhores do mundo como demonstra as certificações emitidas pelas entidades independentes como a King’s Fund ou pela Joint Comission.

Uma gestão hospitalar competente e forte é a potencializadora da prática clinica humanizada. O paradigma da visão holística do paciente e a equidade em saúde constituem a base para que ocorram os processos de humanização, ou seja: num quadro de referência onde a saúde e considerada um valor primordial, necessariamente deve haver um aporte com projeção na humanização dos cuidados prestados.

Em 2022 alguns projetos de humanização hospital em Portugal foram premiados pela Teva Portugal, como é o caso do Dormir é o Melhor Remédio uma iniciativa da Associação Nuvem Vitória que leva diariamente a magia dos contos, com histórias de embalar, a crianças internadas nos hospitais de Santa Maria, São João, Vila Franca de Xira, Braga, Santo André, Garcia de Orta, Cascais e Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

A Literatura Cura : um exemplo vindo do Brasil

Canetas coloridas, tesoura, linhas e agulhas de bordado. Estes são os “instrumentos cirúrgicos” com que Raquel Anderson opera e constrói o dia-a-dia do projeto “A Literatura Cura”. Poeta, escritora e historiadora, Raquel está a frente do departamento de humanização do hospital da CASSEMS, uma associação cível sem fins lucrativos que tem como pelouro a saúde dos servidores públicos do estado do Mato Grosso do Sul a quase 6 anos.

Baseada no conceito de serendipidade, ou seja: um acontecimento que causa impacto imediato de felicidade, Raquel introduz a literatura como centro e ferramenta fundamental para cuidar dos pacientes e dos cuidadores. O projeto que a principio causou estranheza no grupo gestor teve total apoio do seu presidente Ricardo Ayache,  pois acredita que um hospital que tem como objetivo maior uma visão holística do paciente necessita proporcionar uma atuação humanizada.

O projeto A Literatura Cura tem duas vertentes. A primeira vertente cinge sobre o atendimento ao profissionais que atuam direta ou indiretamente com o processo dos pacientes dentro do hospital com um correio que entrega cartas em escrita poética a médicos, enfermeiros, atendentes e pessoal de apoio geral. Ninguém fica de fora.

A segunda vertente atua diretamente junto ao paciente. Raquel tem uma bata lilás e visita cada um dos pacientes internados nos mais de 150 leitos do hospital. Ela conversa atentamente com cada um dele e delicadamente entra em contacto com a história de vida deste paciente para realizar a sua “anamnese literária”. Ela escreve em um papel único e bordado a mão um texto poético cheio de alegria e incentivo para aquele paciente que entra em contacto com suas virtudes e conquistas. Depois, dobra aquilo com muito cuidado e coloca numa caixa de remédio feita especialmente para feito. Segue a entrega que normalmente vem carregada de emoção durante a leitura. Durante a pandemia, além da carta, Raquel também bordava fotografia da família destes pacientes e dos médicos que ficaram lá isolados.

A chefe de enfermagem Priscila Eliane Gineuro, responsável pela educação continuada dos profissionais deste hospital, descreve o trabalho da Raquel como único e singular e tem a capacidade de proporcionar alívio imediato ao desconforto dos procedimentos médicos e de enfermagem.

O Dr. Lucas Vian, médico oncologista, afirma que este trabalho resinifica o olhar de seus pacientes sobre a condição de si próprio e animam de forma impactante na adesão aos tratamentos, muitas vezes incómodos e dolorosos. Afirma ainda que: “o amor é imprescindível no tratamento do cancro” e as terapias integrativas como são ferramentas importantíssimas para lidar com todo o processo de cura e tratamento.

Segundo a psicóloga Dra. Maria Eduarda Casali, parceira de gabinete de Raquel, enquanto os pacientes recebem suas “doses” de remédio literário, sentem um cuidado personalizado. O ambiente hospitalar que é duro, passa a gerar a segurança esperada para que cada um entre em contacto com suas vulnerabilidades. 

Já a médica oncologista Dra. Rafaela Siuf afirma que o “resumo poético” produzido pela Raquel define a generosidade do cuidado que o hospital presta a seus pacientes e aos familiares todos, ajudando na despedida, no entendimento do luto e a percepção da história construída por cada paciente.

O projeto “A Literatura Cura” também sai do âmbito hospitalar quando ingressa na Clínica da Família, idealizado pela Dra. Maria Auxiliadora Budib. Este espaço é destinado aos cuidados de saúde primárias e atende não só os pacientes que então em recuperação e tratamento mas também a suas famílias. Aqui neste contexto, os “instrumentos cirúrgicos” passam para as mãos dos pacientes que tem os entendem como ferramentas de autocuidado e auto cura.

Raquel Anderson é acima de tudo uma sonhadora que com sua criatividade e amor envolve toda uma rede de profissionais de saúde e seus pacientes. Que planta dentro de cada paciente a semente da esperança. Que com seu dom serve a sociedade com entrega e beleza e demonstra que “A Literatura Cura”.


Brasil: Quatro anos sem Ordem nem Progresso


Faltam apenas 8 anos de prazo para o cumprimento da Agenda 2030. O compromisso do mundo inteiro neste sentido não se refletiu no Brasil. Com base no que foi feito nos últimos quatro anos, conclui-se que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o mais insustentável da história do país.

Mais uma vez o Brasil torna-se notícia quando um grupo de apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro atacou a sede dos poderes em Brasília. Além da destruição pelo património púbico está o desprezo pelo ambiente e uma ameaça ao cumprimento da Agenda 2030.

No ranking dos números da pandemia, o Brasil ficou com o 3º lugar no número de mortes. Viu ainda voltar a incidência de poliomielite em crianças menores de 5 anos. Em 2023 33 milhões de brasileiros não tem comida no prato e o pais passou novamente a constar no assustador Mapa Mundial da Fome. Políticas públicas e sistemas de monitoramento foram interrompidos. Orçamentos com a Educação e Saúde reduzidos. Espaços de participação popular eliminados.

Atualmente o brasil passa uma crise de transparência de governança com sigilo em até 100 anos em ações governamentais e o incentivo à liberação de armas e militarização dos espaços civis colocam o sistema democrático imaturo em risco.  Como consequência, o pais que já era muito violento, vê a olho nu o crescimento da criminalidade violenta, principalmente contra mulheres, meninas, jovens negros, índios, quilombolas e a população LGBTQI+ .

Segundo dados do último VI Relatório Luz, o Brasil teve um desempenho pouco animador no cumprimento das 168 metas do ODS que são aplicáveis no pais. Em parte este desempenho foi agravado pela pandemia, entretanto a maior parte deve-se aos desmandos e inação do governo.

Num trabalho minucioso de ONGs em parceria com universidades o relatório apresenta dados como:

Erradicação da Pobreza – ODS 1– Os últimos 3 anos não apresenta dados positivos e demonstram que a pobreza aumentou no Brasil.  Dados do UNICEF revelam ainda que as crianças de 0 a 14 anos estão mais vulneráveis, principalmente pela deficiência na cobertura vacinal e pelo desemprego e precarização do trabalho.

Erradicação da Fome - ODS 2 – O número de pessoas que passam fome no país subiu de 19,1 milhões, em 2020, para 33,1 milhões em 2021. Além disso, 125,2 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de insegurança alimentar. Ou seja, faltam alimentos na mesa, em quantidade e qualidade adequados. Com isso, o Brasil voltou para o vergonhoso Mapa da Fome, posto que havia abandonado em 2014.

 Saúde de qualidade para todos - ODS 3 – A saúde no pais colapsou. Uma política que se recusava a aceitar as evidências científicas dificultou em muito o controle da pandemia, deixando o Brasil com quase 700 mil mortes. A mortalidade infantil voltou a crescer, com 11,51 óbitos para cada 1000 nascidos e mortalidade materna subiu inacreditáveis 223%.

Educação de qualidade para todos - ODS 4 –Em 2020, 6,4 milhões de estudantes ficaram sem acesso às atividades escolares e o governo pouco ou nada fez para recuperar o tempo perdido. As matrículas na pré-escola caíram 9% entre 2019 e 2021. O orçamento de 2022 foi menor do que o de 2019, que já havia sido menor do que o de 2018.

Igualdade de gênero - ODS 5 – Em 2020, mais de quatro milhões de mulheres foram agredidas fisicamente. Uma média de 8 a cada minuto. Foram quase 60 mil casos de violência sexual, sendo que mais ou menos 20 mil envolviam crianças. Cerca de 13 milhões de brasileiras experimentaram o tipo mais comum de violência: a ofensa verbal. As violências contra as mulheres negras e indígenas também cresceram no período.

Água potável e saneamento - ODS 6 – O serviço de abastecimento de água potável estagnou e 36,6 milhões de pessoas no Brasil ainda não têm acesso a esse direito. Rios e reservatórios seguem com índices de qualidade inadequados. Apenas 45% da população tem acesso a ligações de esgoto em suas casas e somente 50,8% desse esgoto recebe algum tipo de tratamento.

Energia limpa e acessível - ODS 7- Está estagnada nos últimos três anos. Entre 2019 e 2020, a participação das energias renováveis na matriz energética nacional passou de 46,1% para 48,4%.

Trabalho descente e crescimento econômico - ODS 8 – Após seis anos de recessão e estagnação econômica, o Brasil segue com uma taxa de desemprego de 10,5%. São 11,3 milhões de pessoas desempregadas, especialmente entre a população mais jovem. Entre 2020 e 2021, mais de 1.700 pessoas foram resgatadas por estarem em situação análoga à escravidão.

Indústria, inovação e infraestrutura - ODS 9 – Os investimentos públicos em infraestrutura, chegando a 1,73% do PIB em 2021, o menor dos últimos dez anos. Ainda em 2021, a produção industrial registrou queda de 2,3%. O setor industrial, que já representou 30% do PIB no início dos anos 80, hoje gira em torno de 20%.

Redução das desigualdades - ODS 10 – De acordo com o IBGE, 125 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar e o desemprego se mantém na casa dos dois dígitos há mais de quatro anos.

Cidades Sustentáveis - ODS 11 – O governo cortou 98% dos recursos para a produção de unidades habitacionais para as famílias com renda igual ou inferior a R$ 1.800,00. A rubrica habitação recebeu 0,0001% do Orçamento da União em 2021.

Consumo e produção responsáveis - ODS 12 - Houve aumento na geração de resíduos e incremento de subsídios para energia fóssil. O governo liberou 562 novos agrotóxicos, alguns banidos dos EUA e da União Europeia.

Ação contra a mudança global do clima - ODS 13 – O governo propôs a revogação da Política Nacional de Mudança do Clima em 2020 e em 2021 apresentou os dados oficiais de emissões de gases de efeito estufa, mascarando o despejo de 400 milhões de toneladas de CO². Os recordes sucessivos no desmatamento da Amazônia são outra prova do desinteresse do governo em combater a crise climática.

Vida na água - ODS 14 – A boa notícia é que o Brasil foi o primeiro país a instituir o Comitê Nacional de Implementação da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável e lançou o plano em 2021. No entanto, o despejo inadequado de resíduos, a inacessibilidade no cadastro de pessoas e embarcações, a falta de dados e de fiscalização e a ameaça de privatização das praias fazem com que este ODS seja considerado em retrocesso.

Vida terrestre - ODS 15 – A destruição dos biomas supera em quatro vezes o limite estabelecido na meta climática estabelecida para 2020. Em 2021, o país atingiu 20% de área total desmatada na Amazônia e aumentou em 8% o desmatamento do Cerrado. Nas unidades de conservação federais, entre 2019 e 21, registou-se uma perda territorial de floresta 130% maior que noa nos anteriores.

Paz, justiça e instituições eficazes - ODS 16 – Os sucessivos ataques aos direitos humanos, instituições do judiciário e a imprensa marcam a regressão deste ODS. O ex-governo da  república seguiu disseminando desinformação e falsas notícias, limitando e bloqueando o acesso a dados oficiais e violando a Lei de Acesso à Informação. Em 2021 foram registradas quase 120 mil denúncias de violências contra crianças e adolescentes, sendo que 19 mil foram de violência sexual.

Parcerias e meios de implementação - ODS 17 – O Brasil segue em retrocesso neste indicador. A parceria com países menos desenvolvidos não foi prioridade o que acarretou uma perda de financiamento da Noruega para a preservação da Amazônia.  


Brasil: disputa eleitoral continua polarizada no 2º turno

O resultado das eleições no dia 03 outubro no Brasil foi mais apertado do que o esperado. Várias pesquisas mostraram Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-presidente de esquerda, vencendo Jair Bolsonaro, o titular de direita, por dois dígitos. Alguns previram que ele ganharia com mais de 50% logo no primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil, tornando desnecessário um segundo turno. Mas na votação real de 2 de outubro ele ganhou apenas 48,4% contra 43,2% de Bolsonaro Os dois candidatos enfrentarão um segundo turno em 30 de outubro, e o Brasil enfrenta mais um mês de polarização.

 

Lula continua sendo o favorito, até porque Bolsonaro tem um alto índice de rejeição entre os eleitores. Com influências acentuadas do “Trumpismo”, Bolsonaro é conhecido por mentir muito facilmente, além dos já famosos comentários preconceituosos, que incitam o ódio e são na maioria dos casos inconvenientes.

Durante o seu governo não houve nenhum esforço político para impedir a destruição da floresta amazônica. Seu tratamento da covid-19 foi vergonhoso. Seu círculo se sobrepõe ao crime organizado. Ele mina as instituições, da Suprema Corte à própria democracia. Ele sugere que a única maneira de perder a eleição é se for fraudada e que não aceitará nenhum resultado exceto a vitória. Ele incita abertamente a violência. Em uma pesquisa recente, quase 70% dos brasileiros disseram temer danos físicos por causa de suas opiniões políticas.

No entanto, apesar da manifesta inaptidão de Bolsonaro para altos cargos, Lula está apenas alguns pontos à frente. Muito disso se resume a dois temores razoáveis ​​sobre Lula: que ele possa ser muito brando com a corrupção e estar muito a esquerda nas políticas de gestão para a Economia.

Lula passou 18 meses na prisão por suposto envolvimento em esquemas de corrupção  e foi libertado em 2019 depois que suas condenações foram anuladas. Ele mantém sua inocência. Mas, aos olhos de muitos eleitores, a mancha de corrupção ainda paira sobre ele e seu Partido dos Trabalhadores por causa da Lava Jato, um grande escândalo de suborno centrado na gigante estatal do petróleo.

Lula nunca se desculpou pela Lava Jato, pela qual tem alguma responsabilidade política. Deve fazê-lo; e jura que, se eleito, escolherá um destemido procurador-geral da lista recomendada pelo Ministério Público.

Em economia, o histórico de Bolsonaro tem sido justo. A inflação está caindo, o crescimento está aumentando e o Estado distribuiu este ano ajuda extra para cerca de 20 milhões de famílias mais pobres. Lula, quando presidente, governou pragmaticamente e presidiu o crescimento acelerado de commodities, mas não conseguiu resolver problemas fiscais subjacentes, como pensões fora de controle.

Lula escolheu uma sucessora muito pouco resiliente, Dilma Rousseff, sob cuja vigilância a economia despencou. Desta vez, Lula começaria com condições fiscais mais duras do que enfrentou quando esteve no poder. E sua plataforma, embora vaga, inclui traços preocupantes e antiquados. Ele vê o Estado como o motor do crescimento; ele quer “abrasileirar” os preços da gasolina.

Para convencer os eleitores indecisos Lula pode confiar em sua prosperidade futura e aproximar-se do centro. Deve nomear publicamente um economista moderado como sua escolha para ministro das Finanças, além de garantir aos agricultores que não tolerará invasões de terras organizadas por movimentos sociais próximos ao seu partido. (Isso não é tão comum quanto os proprietários de terras afirmam, mas amplamente temido.)

Com apoio  de Simone Tebet , Ciro Gomes e o ex-presidente Fernado Henrique Cardoso e para Lula ter maioria legislativa, precisará da ajuda do centro. Mas faça o que fizer, o próximo mês será tenso. Bolsonaro convenceu muitos brasileiros de falsidades aterrorizantes sobre Lula, como que ele fecharia igrejas. O presidente incentivou seus apoiadores a desconfiarem tanto do sistema de votação eletrônica do Brasil quanto de sua mídia tradicional de verificação de fatos. Se ele perder, ele pode alegar que ganhou e exortar seus apoiadores a irem às ruas. Um segundo mandato para um homem assim seria ruim para o Brasil e para o mundo. Só Lula pode impedir. Reivindicar o campo central é a melhor maneira de fazê-lo.

Os 3 Mitos sobre o aborto 

Em Portugal a descriminalização do aborto só aconteceu em 2007. Passados 15 anos ainda há discursos que rivalizam a lei com o paradigma médico da objeção de consciência, estereótipos e tabus culturais que aterrorizam as mulheres que tomam esta decisão e que ainda são vítimas de insuficiência de informação e burocracias.

Enquanto nos EUA, o movimento feminista está nas ruas a lutar novamente por direitos adquiridos nos anos 70, o resto do mundo reflete sobre este que é um assunto do domínio da Política Social onde estão envolvidos o direito à saúde, à autonomia, à igualdade, implicando um enquadramento teórico abrangente, envolvendo os direitos reprodutivos e questões éticas e morais da interrupção voluntária da gravidez – IGV.

Quem nunca ouviu um destes 3 mitos?

1 – Os procedimentos de IVG não são seguros

Segundo a OMS,  quando o procedimento é feito com os métodos recomendados, de forma apropriada a duração da gravidez e assistida por profissionais, o processo é simples e seguro. Em Portugal, o aborto é legal até a 10 semana e a mulher não aufere nenhum tipo de pagamento para interromper a gravidez. 

Quando o procedimento é acompanhado por acompanhamento médico adequado e sob proteção do serviço de saúde os riscos são mesmo muito reduzidos.

2 – A IVG é um problema de pouca gente no mundo

Entre 2010 e 2014, cerca de 25% das gestações no mundo foram voluntariamente interrompidas. Assim este é mais um mito que tem que ser superado. Segundo artigo técnico da The Lancet entre 2015 e 2019 mais de 73 milhões de mulheres interromperam uma gravidez indesejada o que correspondendo a uma taxa global de 39 abortos por 1.000 mulheres com idade 15-49 anos.

Na China o aborto é amplamente praticado. A política do filho único, introduzida em 1979, levou com que milhões de mulheres por ano fossem forçadas a interromper a gravidez “ilegal”..

Entre 2014 e 2018 a média anual foi de 9,7 milhões de interrupções voluntárias. Em reposta a isso as autoridades proibiram o aborto por motivos não médicos após a 14ª semana.

3 – Proibir o aborto é a melhor forma de evitá-lo

Esse é o mito mais difundido. Uma lei regulamenta o “corpo feminino” e a decisão passa a ser do poder judiciário assim é suposto que a prática da IVG acabe. Mas os números mostram outra realidade.

A descriminalização do aborto, vem atrelada a uma nova política sobre a saúde reprodutiva. No caso de Portugal, desde 2011 há uma descida de cerca de 25% o que coloca Portugal como o pais da Europa onde há a menor taxa de IVGs.  Outros dados encontrados na DGS são que mais da metade das mulheres já tem 1 ou mais filhos, vivem em situação estável de relacionamento, estão entre a faixa etária de 20 a 39 anos e 25% destas mulheres tem ensino superior.

A OMS lançou uma campanha, para que os estados membros desenvolvam políticas públicas que protejam as mulheres, privilegiando as mais desfavorecidas que são as que mais morrem em situações IVG em clandestinidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 22 milhões de abortos inseguros são realizados por ano no mundo e cerca de 47 mil mulheres morrem de aborto inseguro, sendo que 99% dessas mortes ocorrem em regiões menos desenvolvidas do mundo com leis que proíbem o aborto.

Meu corpo minhas regras

Mitos são sempre superados por dados, e estes que apresentamos deixam claros que é imprescindível que haja um processo de políticas públicas integradas para a saúde reprodutiva e o planeamento familiar que envolvam educação e posicionamento dos governos.

Entretanto é importante que as decisões de fazer uso de métodos contraceptivos, escolher a maternidade, ter parceiro ou decidir interromper uma gravidez faz parte dos direitos sexuais e reprodutivos de cada uma das mulheres. Durante muito anos estas decisões são limitadas pelo estado, pela religião ou pela cultura. Mas com a declaração dos Direitos Humanos, foi reconhecido às mulheres o direto a tomar decisão sobre as suas próprias vidas. Interromper uma gravidez faz parte do direto daquelas pessoas que tem o poder de “gestar” e devem ser protegidas nas suas decisões pelos estados.

E é por isso que a compreensão e a defesa dos Direitos Reprodutivos a partir do direito humano é de vital importância. 


Biodanza – o movimento e o autoconhecimento

A Biodanza é praticada em mais de 55 países pelo mundo. Em Portugal, conta com mais de 78 facilitadores credenciados e cerca de 5 mil praticantes que utilizam a dança para estimular o encontro com a espontaneidade e autenticidade de expressão e consciência corporal.

Para a prática não é preciso saber dançar. Em grupo e com a ajuda de um facilitador explora-se noções de percepção, atenção, motivação e emoção. Atua diretamente na função cerebral e no comportamento humano, provocando mudanças no bem estar e na saúde mental e física. É considerada por muitos como um processo terapêutico. Esta atividade é baseada em conceitos da Biologia, Medicina, Antropologia, Etimologia, Filosofia e Psicologia.

A Biodanza foi desenvolvida por Rolando Toro entre os anos de 1958 e 1963. O antropólogo e psicólogo andava à procura de um processo que pudesse, de forma holística, perceber os caminhos do ser humano. Assim, criou um modelo teórico de integração e desenvolvimento humano baseado em experiências de crescimento pessoal e induzido pelo ritmo, movimento e emoção, que promove a renovação orgânica, amplia a vitalidade e melhora a comunicação.

É simples, só depende do praticante

A sessão tem dois tempos, um de aprendizado e sistematização da evolução de cada um e outro de vivência. Em cerca de duas horas acontece o encontro entre o indivíduo consigo mesmo e com um grupo. 

Está recomendada para pessoas de todas as idades. Professores, executivos de alta performance, artistas, atletas.

No entanto, é necessário que o “danzante” se entregue nesta procura porque a Biodanza não pode ser resumida numa atividade física ou desportiva, mas sim num processo vivencial livre, onde cada um enfrenta seus bloqueios, as suas angústias, suas certezas, seus medos e sistematiza a sua identidade.

É um processo e os resultados aparecem rapidamente. Logo no final da primeira sessão a sensação de bem-estar é clara. Os risos são acompanhados de altos níveis de energia, melhoria do sono, favorecimento do bom humor, valorização do próprio corpo e um aumento na autoconfiança.

A Biodanza contribui para a coordenação e agilidade de movimento de controle e equilíbrio, tonifica a pele e aumenta a drenagem de fluidos e toxinas. Pode ser muito útil no combate e resiliência ao stress, ou ainda como método para prevenir doenças e promover estilos de vida saudáveis.

Nuno Pinto – o facilitador

Nuno Pinto sempre procurou o autoconhecimento e por intermédio de um psicoterapeuta teve o seu primeiro contacto com a Biodanza em 1998. Reconheceu imediatamente a lacuna quanto à sua própria percepção psicomotora. Hoje admite: “afinal, pensava que sentia. …Não me dava conta disso antes, pois a mente mentia-me e não me deixava perceber e sentir essas questões.”  Relata que se sentia “pobre” quanto à sua consciência corporal e foi através do movimento que se apercebeu dos seus déficits, desbloqueando a sua compreensão ao nível das percepções instintiva, cinestésica, sensitiva, emocional, mental e sentimental.

Tudo mudou desde então. Iniciou o seu percurso de formação em 1999 e passou por vários locais do mundo, tendo inclusive aprendido com o próprio Rolando Toro. Mudou a sua vida profissional e desde 2010 dedica-se exclusivamente à facilitação e à formação. É precursor do movimento BIODANZA em Portugal e ainda supervisor em escolas em Portugal e no estrangeiro. É ainda membro fundador da Associação Portuguesa de Facilitadores de BIODANZA e da Associação de Escolas de BIODANZA SRT de Portugal e Moscovo.

Nuno descreve que o principal objetivo da Biodanza é melhorar a qualidade de vida, e assim, alcançar o equilíbrio emocional, fisiológico, e harmonioso, que facilite a expressão da personalidade.  A prática pode ajudar as pessoas a superar a depressão, aumentar a autoestima e reforçar a identidade, reduzir os níveis de stress, aumentar a energia vital, facilitando a expressão de sentimentos e emoções de forma espontânea e criativa.



Associação portuguesa de ajuda a refugiados ucranianos é condecorada

A associação portuguesa sem fins lucrativos Helping With Satya recebeu no mês de maio uma condecoração do governo ucraniano por extraordinário trabalho na resposta imediata a crise humanitária provocada pela guerra na Ucrânia.

No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma guerra contra a Ucrânia. No mesmo dia, um grupo de pessoas inicia um trabalho hercúleo: encontrar pessoas e recursos que pudessem fazer face a maior fluxo imigratório dentro do continente europeu, depois da Segunda Grande Guerra.

Foram noites e dias, de trabalho ininterrupto. Arrecadara, organizaram e deslocaram até a Ucrânia mais de 800 toneladas de remédios, alimentos e bens essenciais, atendendo as necessidades dos militares da frente de batalha e também o80 orfanatos espalhados na zona invadida. Em 3 caravanas terrestres e 1 voo humanitário, resgataram cerca de 535 pessoas que foram trazidas e alojadas em Portugal.

A associação criou uma rede de apoio que gerência e atrai parceiros para garantir que estas pessoas tenham acesso a emprego e moradia, além de toda a assistência médica e psicológica que isso pressupõe. Há também uma rede de suporte que a partir de ligações telefónicas mantem apoio emocional diário a cerca de 300 pessoas que ou não puderam escapar a tempo dos territórios invadidos ou preferiam ficar. Falam sobre com lidar com as emoções neste que é o momento mais perigoso de suas vidas.

O grupo é composto por 408 voluntários que não param e atuam em diferentes áreas dentro da associação. Entre as fundadoras está Satya. Antiga atleta representante de Portugal na modalidade de bodyboad, ela hoje é uma facilitadora internacional de Consciência Espiritual.  Tem anos de experiência a trabalhar com diversos processos e terapias de transformação, como meditação, respiração, bioenergética, liberação de stress emocional e traumas, sabedoria antiga, caminhar no fogo, expressão da alma e leitura de energia.

O Governo Ucraniano mantém a expectativa de manutenção do protocolo de cooperação de ajuda humanitária com especial enfoque no apoio à saúde mental de mulheres e crianças em situação de acolhimento nos Centros de Refugiados da Ucrânia.

 

Toda ajuda é bem-vinda

 

Já passaram mais de 140 dias em que a guerra entre Rússia e Ucrânia começou. São mais de 5 mil civis mortos e 6 mil feridos segundo dados da ONU. A paz parece um objetivo distante e, apesar de todos os esforços com sanções económicas e boicotes, não há previsão para o fim deste conflito.

Portanto se puder e quiser, pode ajudar a associação Helping With Satya. Pode fazer uma doação em dinheiro que será revertido em pagamento de aluguer, medicamentos e outros bens necessários. Ainda sobre doação, se preferir pode doar cripto moedas.  Se for capaz de hospedar alguém ou tem um imóvel que queria disponibilizar, faça o cadastro na plataforma Refugees Casafari. A plataforma foi criada pelo CIPU e já ajudou a alojar mais de 40 mil refugiados que chegaram a Portugal nos últimos 4 meses. Pode ainda doar alimentos e bens essenciais levando-os até o armazém que fica em Lisboa. Antes de se deslocar até lá liguem para 214 238 426 para garantir que não perde a viagem.

 

A vida dessas pessoas mudou em um instante. Deixaram para trás tudo o que tinham construído.  Com a ajuda de todos a associação Helping With Satya irá promover o bem-estar e o acolhimento destas pessoas.

Larissa Bello - uma mulher de armas

Nasceu menina dentro de um corpo de rapaz. O desafio aparece cedo e entre os sonhos de princesa e a dura verdade da solidão ela construi-se mulher de causa que não foge a luta por um mundo onde as pessoas todas, independente das suas diferenças, sejam visíveis.

Larissa Bello tem 45 anos e é uma mulher trans. Nasce no seio de uma família onde a Bíblia é guia e desde tenra idade aprendeu que o que era representava o pecado. Morava numa casa senhorial onde os pais eram empregados. Sua avó era costureira e fazia roupas para crianças. Larissa as provava e sonhava em ser a princesa das histórias que ouvia.

Cresceu a brincar às escondidas com os sapatos de saltos altos e batom e por volta dos 7 anos de idade a família entendeu que havia algo de muito diferente daquele rapaz. Entre psicólogos e psiquiatras, passou por sessões de cura e exorcismo. Nada poderia mudar aquilo que ela é de verdade: uma mulher.

Trabalha desde muito cedo e é lá que se refugiou do preconceito e de suas lutas internas. Admite que não foi fácil, mas que havia nela algo muito forte que a impedia de desistir dos seus sonhos.

Hoje já tem um nome que a deixa confortável e carrega com orgulho na identificação de entrada para seu posto de trabalho como gestora no apoio ao cliente bancário num banco com renome.  No ativismo é grande. É vice-presidente da Opus Diversidade e ajuda outros e outras como que como ela necessitam de apoio para se readequarem. Além do ativismo LGBTQI+, atua na Rede Portuguesa STOP UE-MERCOSUL.

Como foi o início da sua vida?

Nasci num seio familiar muito religioso, que me moldou bastante as minhas perspetivas para o futuro. Desde os meus 5 anos, eu passei por uma espécie de lavagem cerebral porque desde esta idade fui conduzida a entender os preceitos bíblicos e dentro da dualidade que havia em mim estes conceitos não coincidiam com aquilo que havia dentro de mim. Eu percebi que esta era a melhor das intenções dos meus familiares, mas com o passar do tempo aquilo era mais doloroso pois eu com aproximadamente 7 anos já percebia que era uma menina no corpo de um rapaz. A ideia de me sentir pecadora naquele meio tão puro e imaculado, e eu sentia-me uma intrusa. Tentava de alguma forma anular a minha existência embrenhando-me naquela doutrina. Eu vivi em cima de um palco a tentar viver um papel de um ser estranho de género oposto ao meu. No fundo, eu nunca existi até o momento em que consegui me firmar mais tarde.

Então sempre te sentia uma mulher?

Sim, com 6 anos tive a minha primeira experiência de querer vestir coisas femininas. A minha avó era costureira e fazia roupa de crianças e eu me vestia às escondidas. Mas não só, nas histórias dos livros e dos filmes eu era sempre a princesa, a menina, as personagens femininas. E naquela congregação cristã, era tudo muito repressor e a clivagem entre o bem e o mal me fez muito mal.

E como seus pais perceberam esta sua grande aflição?

Eu fui apanhada algumas vezes a vestir-me e maquiar-me, e então meus pais achando aquilo tudo muito estranho e levaram-me a uma psicóloga e, mesmo sendo completamente avesso a tudo o que se referia a psicólogo e psiquiatra por estar mesmo ligada a coisas dos “maluquinhos”. Essa minha insistência em ser uma menina, foi diagnosticada já na primeira consulta como um desvio na identidade de género, mesmo sem identificar a transsexualidade e que isso precisava ser trabalhado.

Com receio desta pesquisa, eles me tiraram de lá e colocaram mais ainda nos preceitos daquela igreja para tentar mudar essa minha identidade e tentar de alguma forma identificar-me com o que era o certo.

 E como foi a sua saída desta cápsula?

Foi um processo complicado. Pela mão de familiares fui conduzida até um a um psicólogo evangélico que queria me curar a partir de um processo de terapias de conversão. Também fui até uma pastora que praticava uma espécie de exorcismo para me libertar da minha forma de ser. Tudo muito doloroso e se eu já não me sentia bem com isso tudo fiquei ainda pior. Aos 18 anos sai da religião e apesar de muito afetada destes anos todos de autoflagelação e auto culpabilização, passei a viver de forma um pouco autómata. Depois de completar o 12º ano comecei logo a trabalhar, em dois lugares e fugia da realidade, fugia da necessidade de ser eu própria. A minha existência era nula.

E hoje como olha para o seu passado?

Uma pessoa trans quando olha para o seu passado, sente que enquanto pessoa ela nunca existiu. O seu corpo e sua vida não são o que as pessoas vêm. Podemos comparar a um manequim em uma loja. A pessoa Trans vê tudo o que está para fora dela com clareza, mas quem está de fora vê aquele manequim. Aquele corpo que não pertence a ninguém. É só um manequim. E uma inexistência onde existe alguém que se esconde. É como não ter direito a sentir a ser e ter que viver dentro manequim oco, deste corpo que não é nosso.

E o seu presente? Como começou a construí-lo?

Eu pensava que teria que viver assim reprimida dentro deste corpo para sempre, mas felizmente, a evolução da medicina e a visibilidade das questões ligadas à transsexualidade fez-me perceber que podia ser diferente.  Assim, a partir de pesquisas na internet fui desbloqueando este processo e a cerca de 6 anos iniciei o meu processo de readequação com um apoio especializado de profissionais médicos da área psicologia, psiquiatria e sexologia. No SNS foram feitos uma série de exames e avaliações onde se é aferida a questão da sexualidade, se emite um diagnóstico em relatórios que são apresentados a Ordem dos Médicos onde, depois de uma análise minuciosa, o Bastonário autoriza o processo de “readequação do corpo ao género”.

E como é este processo?

É um processo muito pessoal e depende muito do grau da disforia de gênero, que é a incongruência entre o corpo e o género que causa imensa dor para quem sofre. Há um processo de transição hormonal longo que pode levar ou não a uma cirurgia de correção do sexo. Em alguns casos a pessoa define até onde quer levar esta correção. No meu caso, o processo será concluído nos próximos meses. Está atrasado por causa da pandemia, mas em breve chego onde eu quero chegar. Fazer um processo de transição é caro e há de se entender a luta contra o preconceito.

Como a sociedade reagiu a essa sua decisão?

Eu trabalhava numa grande empresa de comunicação e fui completamente apoiada pela gerência que me disponibilizou ajuda. Foi feita uma reunião com toda a equipa onde foi determinado que seriam punidos qualquer ato de transfobia. Passei a usar o meu nome atual e a utilizar os banheiros femininos. Os meus amigos já me viam muito feminina e perceberam que era um caminho que certamente eu iria percorrer.

Como é que chega ao ativismo?

Eu sempre estive ligada a causas da visibilidade LGBTIQ+ com algumas associações específicas de pessoas trans. Com a nova direção da Opus Diversidade, cria-se novas perspetivas e assim fui convidada para participar da direção onde as questões da imigração e do meio ambiente estão contempladas. Como vice-presidente, estou em trabalho para poder ajudar outras pessoas que precisam de proteção dos direitos humanos, valorização da identidade de género e a conquista de novos direitos como é o caso do direito a um nome que se coaduna com o gênero. Eu faço reuniões de esclarecimento sobre direitos e deveres a toda comunidade e também para os imigrantes, online ou presenciais. Também realizo a triagem de estudos e investigações sobre a nossa causa de universidades portuguesas e do resto do mundo para auxílio ou investigação.

Temos ainda o apoio social, que durante a pandemia cresceu e transformou-se em Rede Solidária, para ajuda e socorro às mais diferentes dificuldades que a comunidade LGBTI+. Além de alimentos, muitas associações se uniram para socorrer pagando as contas de água ou energia e até alguns casos de alugueres de pessoas trans que perderam seus empregos e consequente perda de rendimento.

A chegada ao grupo do STOP EU-MERCOSUL foi algo que vibrou em mim e me mobilizou porque une a luta da Opus Diversidade a luta pela sobrevivência do planeta. As alterações climáticas e a destruição do planeta pelo lucro cego proposto por este acordo é imperativo para que todos participemos e lutemos juntos na mesma trincheira em busca do melhor para o planeta e da humanidade.  

publicado na Revista TEJO Mag em 04/07/2022 https://www.tejomag.pt/#/article/larissa-bello

Interior de Portugal: esquecimento e abandono

Portugal assiste sem reação adequada a uma progressiva e acentuada tendência para o despovoamento do interior, que se apresenta cada vez mais velho e empobrecido. Agrava-se ainda a coesão territorial e social. É urgente a implementação de propostas de desenvolvimento que contrarie esta trajetória insustentável. 

Assistimos impávidos a litoralização de Portugal. Cerca de 2/3 do território nacional está no interior.  A condição geográfica não apresenta facilidades para a coesão territorial, principalmente nas localidades que tem proximidade com a fronteira com Espanha. A dinâmica de desenvolvimento conta cada vez mais com tecnologia e a aposta na centralidade ibérica passa pela identificação de projetos específicos e estratégicos que reforce e regule os encontros regionais e multissectoriais.

O governo português lançou  em parceria com a EU o Acordo de Parceria Portugal 2030, onde estabelece  5 grandes objetivos estratégicos para aplicação dos Fundos Europeus até 2030 e onde Portugal contará com 23 mil milhões de euros, distribuídos pelos 5 fundos europeus : FEDER;  FSE+; FC; FTJ  e FEAMPA.

Os objetivos estratégicos estão estruturados em torno de 4 agendas e a primeira coloca na frente as pessoas para um equilíbrio demográfico, uma maior inclusão e menos desigualdade. É nesta agenda que se concentra projetos de sustentabilidade demográfica, promoção da inclusão e luta contra a exclusão, resiliência do sistema de saúde, garantia de habitação condigna e acessível e o combate às desigualdades e à descriminação.

Nem tudo que reluz é ouro

Os projetos e planos governamentais parecem a panaceia salvadora deste processo aparente irreversível da desertificação do interior. Mas a realidade é outra.  A Minha Terra - Federação Portuguesa de Desenvolvimento Local , desde novembro de 2021 tem apontado para falhas no processo que deixam muitos territórios sem acesso às políticas de desenvolvimento de base comunitária 2030. A Federação Minha Terra, está organizada actualmente em 60 Grupos de Acção Local, cobrindo mais de 93% do território nacional, implementam a abordagem LEADER em Portugal, através de Estratégias de Desenvolvimento Local (EDL), no âmbito do instrumento DLBC.

São vários os  comunicados  que demonstram o trabalho realizado pelos Grupos de ação local e foram esquecidos e afastados do acordo de parceria ao não serem assumidas intervenções multi-fundo de base local nos territórios rurais. A Federação e os GTs apelam ao governo que assumam que a abordagem leader enquanto instrumento fulcral “para a governança territorial a nível sub-regional através de estratégias de desenvolvimento local que traduzam as vontades e expectativas das comunidades, permitindo o apoio a projetos locais de diferentes setores de atividade, a partir de uma visão integrada, reforçando as parcerias territoriais de atores e a sua relação/cooperação com outros níveis/escalas de governança “.

Quanto ao PEPAC, Plano Estratégico de Politica Agrícola Comum, que define os apoios a agricultura e os desenvolvimento rural para o mesmo período, tem uma dotação ligeiramente acima do imposto pelo regulamento comunitário. Segundo a Federação Minha Terra, “as verbas para o LEADER não compensarão a redução de financiamento por via da retirada dos apoios via FEDER e FSE do DLBC enunciada no Acordo de Parceria e traduz-se numa opção minimalista e num corte expressivo de quase 50% em relação ao actual período de programação, em prejuízo das comunidades rurais de todo o país”. Beira ao desrespeito e desconsideração aos mais de 30 anos de trabalho dos Grupos de Ação Local – GAL, atuante nas regiões e conhecedores da realidade das necessidades e expectativas das respectivas comunidades.

Uma visão para o Futuro

Estive à conversa com o Francisco Burnay. Ele é um jovem agricultor que, junto com o irmão em Beja, trabalham as terras pertencentes a família há pelo menos 3 gerações. Dedicam-se à um olival moderno além da cultura do milho, cevada e girassol, sempre em modo de produção integrada. Físico de formação, contraria as estatísticas de despovoamento do interior. Ainda divide seu tempo entre Lisboa e o Alentejo. Entretanto tem planos para em breve mudar-se com sua família definitivamente para Beja, que considera ter boas estruturas de saúde e educação.

Na sua propriedade há trabalho o ano todo. Está localizado na área de influência do Alqueva e o olival moderno permite-lhes gerar empregos mais qualificado, com aporte forte de tecnologia e inovação. Estes fatores juntos criam perspectiva de futuro para a novas gerações, mas a realidade envelhecida e empobrecida não desaparecerá no resto do pais porque os projetos de resiliência e financiamento as alterações climáticas não são acessíveis a todos.

Explicou-me sobre a diferença entre os formatos de propriedade no Sul -maiores e no Norte - mais segmentada. O PAC, além de não contemplar as especificidades geográficas e climatéricas de Portugal acaba por dar maiores privilégios aos empresários com mais dimensão, que oferecem mais garantias de retorno do investimento. O apoio comunitário não chega aos pequenos proprietários que são os que mais precisam de incentivos e financiamento.

A sua maior tristeza é ver o alto índice de suicídios e o total desprezo pela saúde mental das populações do interior. Outra das suas angústias, está a miopia que abarca a governação do pais. Afirma que a intensão de aparelhar o interior com uma visão competitiva e comercial, mas esquecer que o que o movimento neste sentido só se dá com o envolvimento e fixação das pessoas nestes territórios é um descompasso entre a realidade rural do pais e o modelo de desenvolvimento que já mostrou provas de falhar. É preciso olhar para o mundo rural a partir do ponto de vista das necessidades do mundo rural e não com os olhos do litoral.

 

publicado na Revista TEJO Mag em 19/07/2022 

https://www.tejomag.pt/#/article/interior-de-portugal-esquecimento-e-abandono

Porque é importante descarbonizar a economia

Este artigo foi publicado em www.tejomag.pt

Desde a Revolução industrial do século XIX, quando começamos a queimar combustíveis fósseis para implementar o processo produtivo a emissão dos Gases de Efeito Estufa(GEE) só aumenta. O crescimento da produção industrial, a destruição das florestas, o aumento dos meios de transporte, a impermeabilização dos solos para implementação de cidades só aumentou a temperatura do planeta, a pobreza e a insegurança alimentar. Não há outro caminho para salvar o planeta. É preciso descarbonizar agora.

Segundo a ONU, estima-se que em 2100 a temperatura média do planeta pode aumentar cerca de 3,7ºC e as consequências deste aumento passam por eventos de grande impacto climatérico – secas, inundações, grandes tempestades – que coloca em risco a segurança das pessoas e que causa ainda um impacto económico e social substanciais.   

A ciência tem apontado diversos caminhos desde a primeira convenção em Estocolmo em 1972. Basicamente o que devemos fazer é reduzir a emissão dos gases de efeito estufa e preservar os catalisadores de carbono existentes como é o caso dos mares, solo e das florestas. Além disso, é preciso implementar um processo educativo e de conscientização para empresas e pessoas atuarem com maior esclarecimento. A fórmula parece simples: preservamos o ambiente e ativamos as consciências e já está: SALVAMOS O PLANETA!

Podia ser simples, mas não é. Nada é simples quando a questão é dinheiro, mesmo sendo evidente o quanto as mudanças climáticas são prejudiciais para as economias. O processo industrial e desenvolvimentista da sociedade atual não parece entender bem como vai planear políticas globais, locais e pessoais. O processo é lento e os prazos estão a encurtar-se. Se em 2050 a sociedade e a economia não estiverem 95% neutras em carbono a temperatura será superior ao 1,5ºC e as consequências certamente serão catastróficas.

O Acordo de Paris não é somente um acordo entre mais de 200 países para o futuro do planeta é também um pacto de sobrevivência para o futuro da humanidade.  Substituto do Tratado de Kyoto, estabelece objetivos mais claros e faz recomendações que os países mais ricos, também estes mais poluidores, transfiram divisas e tecnologia para que todos possam cumprir as metas de descarbonização.

O IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, inicialmente recomendou a necessidade de uma redução média de 5% nas emissões desde 1990 durante o período de 2005 até 2012. Numa segunda fase, até 2020 as partes teriam que comprometer-se a reduzir em mais 18% as emissões de GEEs. Agora o próximo espaço de tempo é até 2030, onde os países membros acordaram uma meta muito arrojada: a redução de 50% das emissões.

Em Portugal, temos boas expectativas.

Sim, estamos no bom caminho. Desde 2015, quando Portugal assumiu um compromisso para mudar a trajetória de destruição do planeta junto com mais 195 países parceiros, muitas metas foram batidas e grandes passos rumo à resiliência diminuindo a vulnerabilidade do território e posicionando-se de forma audaciosa neste cenário rumo a neutralidade carbónica.

Num ranking de emissores, o setor da energia é responsável pela maior quota: 67 % do total de emissões em 2020. A seguir temos as atividades de transporte com 25,8 % do total.  A indústria energética vem em terceiro lugar com 18,1 % e é o setor que registou a maior redução em emissões, pois em 2019 foi responsável por 36,7% das emissões totais em Portugal. Este resultado só foi alcançado porque houveram políticas que combinaram uma maior produção e utilização de energias renováveis, menor produção de energia térmica e a passagem do carvão para o gás natural.

A Tejo Mag conversou com Francisco Ferreira, presidente da Zero, sobre os avanços e retrocessos da ação portuguesa rumo à descarbonização. Francisco ressaltou que por mais passos positivos e metas alcançadas que Portugal alcance, enquanto não houver uma mudança nos paradigmas de consumo não será possível construir um desenvolvimento sustentável.   

Considera que a atuação, em algumas frentes, tem sido positiva, tendo feito uma grande aposta nas energias renováveis e nos edifícios inteligentes. Entretanto, é preciso que haja mais honestidade na avaliação da evolução das políticas públicas e uma maior coerência na implantação de ações estruturantes. Faz-se aqui necessário mais empenho político para colocar as prioridades em ordem.  

Francisco Ferreira, fala com preocupação sobre as emissões sobre o setor de transporte não contabilizar as emissões da aviação e do transporte marítimo internacionais que vêm embutidas nas importações de produtos agrícolas e não só, que é uma fatia cada vez mais crescente.

Portugal caminha ao lado dos parceiros europeus, e não só, para conquistar a “salvação” até 2040. Entretanto, o certo é que cada vez mais todos, países ricos e pobres, passem por grandes dificuldades em virtude dos efeitos nocivos das emissões de CO2 destes últimos 70 anos. Produzir mais em menor tempo demanda o uso cada vez mais intenso dos finitos recursos naturais.

Em junho de 2022, mês em que se comemora os 50 anos da Conferência de Estocolmo, estamos todos a viver uma crise sem precedentes. A mudança do clima, a poluição e resíduos e perda da natureza e da biodiversidade, afetará de certeza as gerações que estão a crescer agora e afetará de forma contundente todas as estruturas sociais. Estamos muito próximos de um ponto de não retorno onde a saúde humana, a prosperidade, a igualdade e a paz estão ameaçados. Está mais do que na hora de governos, empresas e sociedade parar de repetir os erros do passado e evoluir rumo a um planeta descarbonizado e sustentável. 



Seca Severa em Portugal

Este artigo foi publicado em www.tejomag.pt

O mês de maio de 2022 fica marcado por um novo recorde. Segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o mês de maio classificou-se como extremamente quente e muito seco, sendo o mais quente dos últimos 92 anos.  A registar o valor médio de temperatura máxima do ar que foi de 25,87 graus, só visto em maio de 1931.

 

Estamos a viver um momento fora do comum. Os períodos de seca fazem parte do processo hidrológico da Península Ibérica, mas desde o ano de 2021 tem se mostrado complexa e visível em muito mais áreas do país. De acordo com o relatório do IPMA, o índice PSDI demonstrou que em fins de janeiro de 2022 o estado de seca agravou-se significativamente o que fez prever um aumento muito importante na área e na intensidade deste fenómeno meteorológico. Portugal tem 97% do território em seca severa, 1,5% em seca moderada e 1,4% em seca extrema.

Os rios que nascem e que cortam o país, tem o com volume de água reduzidos de forma a impedir qualquer atividade de agricultura e pecuária e já se registou inúmeras perdas que atingem o âmago da tão fragilizada economia do setor, afetando diretamente os habitantes das regiões mais afetadas.  Desde 2005 não se regista tantas regiões em situação gravosa em pleno inverno.

 

Qual a relação das secas e da crise climática

A relação é clara: a alteração climática tem alterado características do clima em muitos pontos do planeta. Várias regiões estão a sofrer transformações meteorológicas com invernos e verões mais rigorosos, mudanças no regime de chuvas que causam severos impactos na flora e na fauna e na vida económica das regiões. As secas são claramente a prova dada que a mudança não só está presente e cada vez mais dimensionada.

A ONU considera que há uma emergência na gestão dos recursos hídricos em virtude não só das secas cada vez mais frequentes, mas também das grandes enchentes, o que só demonstra o desequilíbrio que o planeta está a viver.  Segundo o secretário geral da OMM- Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, em declaração a Onu News, informou ainda que o aumento das temperaturas está a causar uma mudança nos padrões de chuvas e nas temporadas agrícolas. Isso faz com que haja um enorme impacto para a segurança alimentar e para diversos aspetos da saúde humana.

 

 

O Presente e o Futuro da Seca em Portugal

Existem vários prognósticos e avaliações sobre como, do ponto de vista político e social, Portugal irá ultrapassar este momento tão complicado. São três crises de grandes dimensões: a Sanitária com o Covid-19 a parar o pais e o mundo em todos os sentidos; o conflito armado no leste europeu que despoletou uma crise energética sem precedentes e a seca em quase a totalidade dos territórios.

Em março, numa entrevista a Rádio Renascença, o ex-secretário de Estado do Ambiente, Eng. Joaquim Poças Martins, assume ser uma grande possibilidade que esta situação se arraste durante muitos anos. Para ele o que estamos a viver agora é uma transformação dos cenários de seca com uma frequência mais acentuada. Segundo Martins, temos planos para períodos de secas a cada 10 anos e este período agora está diminuindo para a cada 3 ou 2 anos, com tendência a se tornar um evento anual.

Pensando nisso, a APA tem O Plano de Gestão de Seca e Escassez, que de forma estratégica consiste em uma série de medidas para prevenir e minimizar as consequências da seca e tornar mais eficiente a gestão de recursos hídricos.

Medidas políticas são fundamentais neste momento e devem ser assertivas e eficientes. Atividades económicas como a agricultura e pecuária estarão seriamente comprometidas. Outra questão importante diz respeito à transformação da matriz energética. Os rios, tem seu caudal comprometido e a produção de energia hidroelétrica diminui o que ocasiona o maior consumo de gás natural ou ainda a religação das termelétricas a carvão.

A tendência das secas está cada vez mais real e estamos a viver uma emergência. A medida tomada pelo governo tem mais um caráter paliativo e pouco estruturante de soluções a longo prazo.

Embora há tantos anos a tendência das secas seja uma realidade, não há aparentemente uma ação planeada para encarar os factos de que as secas tendem a ser, nos próximos anos, ainda mais extensas e demoradas. O desperdício de água nos mais diversos setores de produção é um grande problema pouco combatido e o uso irracional de recursos hídricos na agricultura e pecuária é um pesadelo.

É necessária uma maior racionalização do consumo aliado à poupança da água. Diminuir o consumo de carne ou adoção de práticas de reciclagem, reuso e reaproveitamento de embalagens, grandes vilões no consumo de água para sua produção, pode ser importante. Mas o mais importante aqui é conscientizar as pessoas todas que o planeta está quase a esgotar-se. A humanidade já causou muito impacto. Impactos como a seca. É preciso mudar o pensamento e padrões de consumo para que possamos garantir o futuro para as novas gerações. 



Sustentabilidade do Planeta: é urgente mudar padrões de consumo

Desde o surgimento das primeiras trocas entre produtos e a globalização, a essência do mercado é a mesma: necessidades baseadas em valores e cultura definindo critérios de consumo e produção.

Atualmente com o sistema de produção e consumo em massa há uma quebra de sincronia entre manufatura e ambiente, ou seja, a velocidade da produção e consumo é maior que a capacidade do ambiente na recomposição dos recursos. O esgotamento dos recursos interfere na oferta e provoca um desequilíbrio no principal fundamento de mercado, a lei da oferta e procura.

Vivemos uma equação que não se fecha: um planeta limitado fisicamente, uma população crescente (7 bilhões), um estilo de vida extrativista (recursos não renováveis) e poluidor (descartável) determinando um rápido esgotamento de tudo aquilo que nos proporciona vida (água, ar, solo, fauna e flora) e qualidade de vida (petróleo, minerais, energia, espaço, etc.). A possibilidade de extinção da vida vem nesta sequência: Primeiro são as plantas, depois os animais e depois o próprio homem é que sentirá os efeitos negativos da devastação e da poluição ambiental.

Muitos consumidores estão cada vez mais preocupados e engajados na mudança de comportamentos e adeptos a comportamentos mais sustentáveis. Trata-se de um nicho (pequeno segmento da sociedade) crescente do mercado. É considerado nicho porque é ainda incipiente o que determina baixo volume de produção e consumo, e é crescente, porque está dentro da necessidade urgente de melhores indicativos de qualidade de vida e não aceitar as consequências das atividades extrativistas e não sustentáveis que provocam o esgotamento de recursos naturais para as atuais e próximas gerações.

O consumo sustentável é um conceito que leva o consumidor para o centro do poder e este deve usá-lo em benefício de uma sociedade melhor. Um consumidor cidadão que a partir de uma percepção maior traduz uma atitude crítica no momento da compra. Contribuirá para acelerar investimentos em tecnologias mais limpas, produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, atitudes competitivas e responsáveis.

Toda esta dinâmica de mercado criará ciclos de oportunidades que serão aproveitados pelos profissionais de marketing e empreendedores visionários. A conquista e manutenção de melhores índices de qualidade de vida representa desafios e oportunidades para conquista e manutenção de clientes.

Esta onda verde é a tendência que irá modificar de forma irreversível o modelo de vida da sociedade. Ficar na crista da onda vai depender da acuidade do profissional de marketing e de todo seu conhecimento e raciocínio estratégico para surfar o maior tempo possível. Esta Onda certamente irá cristalizar e deixar de ser tendência para ser base para novas ondas que virão conforme a dinâmica natural do mercado que vive em transformação e evolução.

COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Eu tenho um vício: sou consumidora compulsiva de notícias. Em vários formatos: jornais, revistas, rádio (adoro!!!!!), TV e internet. Algumas me despertam um tipo de asco, como é o caso daqueles diários impressos com gordas sobre assassinatos e violência barata. Outras que não me fazem perder tempo são as capas com corpos lindíssimos, quase sem roupa e sem muito conteúdo também.

Gosto mais das notícias sobre o panorama político em geral, Europa, China e Médio Oriente e em específico o cenário português e brasileiro. Mas aquilo que mais me faz consumir os veículos noticiosos e alimentar a minha adição são as informações sobre meio ambiente, sustentabilidade, inclusão e empoderamento feminino.

Nas últimas semanas dois temas têm me perseguido: o aumento dos combustíveis e da energia e a transição energética. Quero saber tudo sobre isso porque sinto diretamente em meu bolso. (Doi!!!!) Abastecer o meu carro passou de cerca de 55€ para mais de 65€ em menos de um ano. Os jornais bem tentam explicar os cálculos dos impostos, a subida vertiginosa no barril de petróleo e controlo de stocks, mas a única coisa que me vem à cabeça é que está mesmo a chegar a hora do grande salto. É a hora de aproveitar os altos preços para instrumentalizar uma mudança de comportamentos para promover a tal transição energética.

As mudanças climáticas estão a causar a mais complexa crise desde que os seres humanos apareceram neste planeta. Estamos a chegar naquele ponto de não retorno, ou seja, a humanidade poderá extinguir-se, como o dinossauro que estes dias discursou na ONU. (risos)

Que tal aproveitar a situação e criar uma oportunidade de mudança?

Um país invadido, um presidente ex-comediante e crianças a empunhar armas.  

Depois de mais de 7 anos de ameaças a Rússia de Putin finalmente cumpre com o prometido e invade a Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelensky, eleito em 2019 com 73% dos votos, tem no minino um percurso curioso. É licenciado em Direito e humorista de profissão. Tem 44 anos e foi eleito com o discurso sobre o fortalecimento da independência da Ucrânia e mitigação dos conflitos internos. Dissolveu o Parlamento já na posse e desdobrou-se em estratégias de aproximação com o ocidente.

O seu governo está sob fogo cerrado de desinformação e ataques cibernéticos, enfrenta hoje o pico da quinta vaga de COVID 19 e ocupa o 18º lugar no ranking com 112 mil mortos até agora. Numa demonstração de determinação e resistência Zelensky veio a uma conferência de imprensa e às redes sociais, vestindo uma t-shirt caqui, ressaltar que apesar de ser considerado o alvo número 1 de Putin, não abandona seu país e seu povo e ficará com a família em Kiev.

Convocou o povo apelando ao instinto nacionalista e veículos de comunicação do mundo inteiro divulgaram imagens de uma professora de música que treina seus alunos a manejarem armas de calibre pesado, a arrastarem-se e esconderem-se nos campos e a prepararem-se para combater frente a frente com o arsenal militar russo com paus e pedras nas mãos. Em reação, e um pouco por toda a Ucrânia, homens e mulheres de todas as idades e crianças estão a formar-se “soldados paralelos” num “exército voluntário” chamado Forças de Defesa Territorial da Ucrânia.

Não fosse isso suficientemente terrível de entender, no primeiro dia da guerra, as forças de segurança do país perderam o controle sobre o território ao redor da extinta usina nuclear de Chernobyl. Sem registo de baixas ou danificações nas estruturas que contêm a radiação residual do acidente de 86, os monitores da Agência Internacional de Energia Atômica alertam que estes movimentos podem interferir nos reguladores de segurança nuclear ucranianos.

Num primeiro dia de guerra já são mais de 100 mil pessoas em fuga da capital Kiev. Homens entre 18 e 60 anos estão proibidos de sair do pais. Portugal já se prepara para receber os refugiados. Há manifestações e muitas pessoas a protestar nas cidades referências em todo o mundo. As embaixadas da Ucrânia e Rússia estão fortemente vigiadas. O presidente ucraniano, em sua última incursão nas salas de imprensa afirmou que a Ucrânia esta por conta própria e convoca o povo para pegar nas armas. Energia, bens alimentares, banca e exportações em risco de crash. São 137 mortes, incluindo 10 oficiais, e 316 feridos em um avião abatido, bombardeamentos em diversos centros urbanos e comboios de pesados militares a atropelar carros de civis.

O que se passa com o mundo enquanto engolimos impávidos frente à televisão, imagens de crianças vestidas com roupas de texturas militar a manejar bazucas de verdade? A humanidade precisa dar uma grande volta, mas sinceramente, não vejo como.

Liberdade de Imprensa: um dia para refletir

Em 1993, no dia 03 de maio foi criado um dia especial para que o mundo possa refletir sobre as impunidades cometidas contra jornalistas que são assassinados, torturados e perseguidos como consequência do trabalho de informar. A UNESCO, este ano, escolheu Punta del Leste para a Conferência Global do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e reuniu mais de 1000 participantes de 86 países. Durante 3 dias e em 60 sessões a conferência serviu de plataforma para diagnosticar a situação e apontar para soluções concretas para o panorama mundial da liberdade de informar.

Audrey Azoulay, diretora-geral, apela a todos união para aproveitar as oportunidades e enfrentar os riscos da era digital. Convida ainda os Estados Membros, as empresas de tecnologia, a comunidade de média e toda a sociedade civil para que juntos propor e construir uma nova configuração digital que proteja tanto o jornalismo como os jornalistas.

Neste Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, convido os Estados membros, empresas de tecnologia, a comunidade de média, bem como o resto da sociedade civil a unir-se para desenvolver uma nova configuração digital – uma que proteja tanto o jornalismo quanto os jornalistas.

— Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

O Jornalismo Independente está em perigo.

Dentre as publicações do evento, World Trends in Freedom of Expression and Media Development, que desde 2014 é publicado a cada 4 anos, avalia que o jornalismo independente está a passar por um momento muito complicado. A ruptura dos modelos de negócio e o aumento crescente da repressão à liberdade de imprensa representam risco contra a integridade física dos jornalistas, assim como uma forma de “quase censura”.

Entre os muitos dados e uma reflexão complexa do estado do jornalismo no mundo, está um dado alarmante: entre os anos de 2016 e 2021 foram assassinados 455 jornalistas enquanto estavam em trabalho. Acrescenta-se aqui outro relatório do RSF- Repórteres Sem Fronteira, onde consta que no ano de 2021, foram detidos 488 jornalistas em todos.

Assédio e insegurança digital

A ameaças digitais são cada vez mais frequentes e não demonstram tendência de abrandamento. Juntamente com ataques a órgãos de comunicação, as ameaças a seguranças dos jornalistas agravam-se na mesma proporção em que as entidades responsáveis pela aprovação de leis que promovam proteção não atuam. Num inquérito global sobre jornalismo durante a pandemia, realizado pelo Centro Internacional de Jornalistas (CIJ) e pelo Centro Tow de Jornalismo Digital da Universidade de Columbia, uma parcela significativa dos 1 406 entrevistados relatou ameaças flagrantes de vigilância governamental (7%); ataques de segurança digital direcionados, incluindo phishing, negação distribuída de serviço (DDoS), malware (4%); ou entrega forçada de dados (3%).

Os instrumentos digitais também refletem ataques psicológicos sendo que 20% dos entrevistados descrevem experiência de abuso, assédio, ameaças ou ataques em linha.

Género e Violência

A liberdade de expressão é especialmente afetada quando a violência acontece contra mulheres. O ambiente digital é catalisador do discurso de ódio, ameaças à integridade física, bulling e perseguição online, assédio, vigilância digital direcionada à coerção e partilha de imagens íntimas.

Entre 2016 e 2020, foram mortas 37 jornalistas mulheres. São muitos os relatos de violência física e online que tem origem entre colegas, fontes, figuras públicas e em muitas circunstâncias em anonimato ou vindo de estranhos a atividade. Essa violência, nas suas várias formas, representa uma ameaça à diversidade da comunicação social, bem como à participação igualitária nas deliberações democráticas e ao direito do público de acesso à informação.

De acordo com dados do Global Media Monitoring Project (GMMP), as jornalistas estão menos envolvidas em temas mais fracturantes: somente 33% de mulheres estão relacionadas com Crime e Violência e 35% com Política e Governo. Além disso, muitas mulheres jornalistas são excluídas dos cargos de editora e dirigentes de topo. No plano de tomada de decisão, inclui-se o facto de as jornalistas enfrentarem desafios específicos relacionados com a violência de género, que podem ir além do que há muito se conhece sobre a segurança dos jornalistas.

Liberdade de Imprensa é a garantia de um mundo mais democrático

Desde 2016, o termo "fake news" ganhou uma relevância político-jurídica de destaque. O caso Cambridge Analytica provou e multou o atual Grupo Meta por fazer de uso de estratégias de gestão de dados e noticias fraudulentas foram determinantes na eleição que levaram à presidência americana Donald Trump.

O termo torna-se um conceito. Com objetivo de desinformar e confundir, as "fake news'' possuem estratégias amplas com resultados comprovados na economia, sociedade e política. O papel das redes sociais aqui é preponderante e funciona como câmara de eco: quanto mais as pessoas partilham a notícia falsa, mais ela se torna recorrente e relevante e assim se constrói uma "fachada de verdade” e se estabelece a desinformação.

Somente uma imprensa livre e democrática é capaz de criar ferramentas de combate à falta de compromisso com a verdade dos factos. Onde há disseminação de notícias fraudulentas, não há liberdade de informação, mas desinformação dolosa. As “fake news”, assim, são verdadeiras ameaças ao direito fundamental de ser informado, titularizado por todo cidadão e que estrutura a sistemática de liberdade de comunicação.

A liberdade de imprensa é um valor muito precioso para o regime democrático configurando uma ferramenta que identifica e limita abusos e desmandos da autoridade. Poderíamos considerar que pela sua natureza faz parte do direito fundamental dos cidadãos: o direito de ser informado.

A liberdade de Imprensa não deve ser confundida com liberdade de expressão pois respeita normas mais densas que protegem a origem e o compromisso com factos. A liberdade de informação ativa, de responsabilidade da comunicação social no âmbito do jornalismo é o que precede a liberdade de expressão que é direito de toda a pessoa.

Como relacionar panelas e os direitos da mulheres – uma lição a não esquecer

Outro dia na hora do jantar, reclamei que minhas panelas estavam gastas e com a avaria que eu fiz no ano novo (deixei a panela de pressão no fogo baixo e fui à lavanderia!!! Quase pus fogo na casa!!!!) tínhamos que começar a pensar que em breve teríamos que investir algum dinheiro.

O meu filho mais novo, que é uma das minhas riquezas, chamou a irmã mais velha e sussurrou-lhe ao ouvido que eles podiam aproveitar o dia da Mulher, falar com o pai e oferecer-me umas panelas novas.

Ouve-se então uma risada alta da minha filha (feminista ferrenha) que lhe solta logo a seguinte frase:

“Só se for para a mãe lhe dar com elas na cabeça!!!!”

A expressão de “ups acho que fiz asneira” foi imediata e o riso foi coletivo ao jantar. É claro que ele só tem 12 anos e dar prendas significa atender as necessidades que outro tem, e no meu no caso são panelas novas. O que ele não sabia, mas ficou a saber naquele momento, é a simbologia do assunto.

As mulheres não precisam de ser homenageadas. Não são as “lembrancinhas” baratas que fazem deste dia especial. O Dia Internacional da Mulher não existe para que sejam distribuídas flores que celebram a fragilidade. O 8 de março é um marco para que possamos refletir sobre como as mulheres são tratadas nos outros 364 dias do ano. É dia de pensar que só no ano de 2020, 47 mil mulheres foram mortas por seus companheiros ou família (ONU).

Assuntos como a representatividade na política, nos cargos de gestão, nos papéis de decisão são ainda necessários de serem discutidos porque apesar de conhecermos mulheres fortes nos cargos mais importantes do mundo é sempre uma exceção. Em Portugal uma mulher ganha menos 16% em comparação aos homens quando executam as mesmas funções.

Hoje são mais mulheres que chegam ao ensino superior e estão na frente na produção de ciência e conhecimento. São mais mulheres que ocupam cargos de destaque na política internacional como é o caso de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia e de Kamala Harris vice presidente dos EUA. Mas apesar de todos os avanços relativos aos direitos das mulheres, nenhum país atingiu a igualdade plena entre homens e mulheres, um dos Objetivos de Sustentabilidade das Nações Unidas.

O dia de hoje serviria para doutrinar meu filho. Mas não serve. O dia de hoje é só mais um dia para com ele, minha filha, eu e o meu marido exerçamos a divisão de tarefas dentro de casa, o respeito mútuo e o reconhecimento de que mulheres devem ser reconhecidas no seu direito de existir na diversidade infinita deste planeta.